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A Esfera Pública
Contador. Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil-aposentado. Professor do Decca-Ufma. E-mail: [email protected]
Em princípio, para que não pensem que devo ter enlouquecido, afirmo que a frase título do presente artigo, com o devido ponto de interrogação, consta das páginas 147 do livro “Corporação 2020 COMO TRASFORMAR AS EMPRESAS PARA O MUNDO DE AMANHÔ, de autoria de Pavan Sukhhdev, Editora Planeta Sustentável, 2013. Relevante também destacar que Sukhhdev não se trata de um autor possuidor de ideias extravagantes, pois trabalhou por quinze anos no Deutsche Bank, tendo tirado licença para escrever o referido livro, além de ter elaborado o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e o relatório “TEEB”, que avalia os benefícios mundiais da biodiversidade. Consta, ainda, do resumo do seu currículo atividades tais como: Presidente da Agenda Global sobre Biodiversidade e Ecossistema para o Fórum Econômico Mundial de Davos 2010 e 2011, além de atuações nos Conselhos de Organizações como Conservation Internacional e do Centro de Resiliência de Estocolmo, sendo que, em 2011, foi nomeado pesquisador visitante da renomada Universidade Yale, nos EUA.
Em verdade, a proposta do livro de Pavan Sukhhdev é a de despertar a consciência das grandes lideranças políticas e empresariais para as consequências das deficiências do mercado e atitudes irresponsáveis, que não visam o longo prazo, ao tempo em que preconiza mudanças visando o desenvolvimento de corporações mais responsáveis, das seguintes “condições capacitadoras”: fornecer mais informações aos investidores e aos consumidores para que possam tomar decisões com base em critérios mais amplos do que apenas no preço final do produto ou no retorno dos investimentos; cobrança de impostos dos males causados, e não dos bens produzidos; fornecer informações reais aos consumidores, e não apenas conversa de vendedor; limitação de alavancagem financeira, em especial, de companhias consideradas “grandes demais para falhar”, cuja negociação do patrimônio é basicamente uma externalidade negativa sobre os contribuintes.
Quais seriam os “papéis salvadores dos Contadores”, que teriam gerado o título do presente artigo, obviamente, guardados os notórios exageros, da “figura de retórica”, quanto à tarefa de salvar, ou mesmo tentar conduzir o mundo e, por consequência, os seus futuros habitantes, para caminhos não tão catastróficos como os defensores do meio ambiente preveem Pelos menos, em três “condições capacitadoras”, acima reproduzidas, os Contadores poderão ter contribuições efetivas. Em se tratando de maiores e mais abrangentes informações para os investidores, entidades como The Price’s Accounting for Sustainability Project e Global Reportting Iniciative (GRI) estão formando comissões de especialistas para descreverem os padrões de relatório único que evidenciem não somente informações financeiras, como também atinentes à sustentabilidade. Por outro lado, o Instituto de Contadores Públicos Certificados da Inglaterra e País de Gales iniciou tratativas relacionadas com a “Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para a Coalizão Empresarial”, objetivando calcular as externalidades corporativas. De outra forma, para a cobrança de tributos sobre males causados, e não sobre os bens produzidos, imperioso será a medição e a evidenciação dos custos das externalidades e dos passivos ambientais produzidos pelas atividades econômicas, tarefas que somente poderão ser realizadas, caso tenhamos uma Contabilidade Ambiental. Por fim, os relatórios contábeis não devem apenas focar as alavancagens financeiras e de resultado, imperioso que sejam destacados os custos sociais e ambientais de tais alavancagens, que sem outros controles, vale dizer, com o afrouxamento das regulações, apanágio das políticas neoliberais, ensejaram as crises mundiais recentes, que demandaram incomensuráveis recursos públicos, para evitarem que as organizações grandes demais sumissem, provocando o tão temido risco sistêmico, não previsto, quando os tempos são de bonança, para os que privatizam os lucros e, logo depois, socializam os prejuízos.
O tempo das preocupações com o debitar e creditar dos “Guardas-Livros” passou, e muitos dos que militam no campo dos negócios públicos e privados, alheios ao que acontece no mundo, não perceberam. Por consequência, endosso, sem pestanejar, as considerações de Pavan Sukhhdev, em seu livro “Corporação 2020″: “A primeira solução apresentada no conjunto de ferramentas para mudanças é um marco contábil melhorado para refletir as externalidades positivas e negativas nas demonstrações financeiras de uma corporação, tornando, dessa forma transparente não apensa seu impacto holístico na economia, na sociedade e no meio ambiente mas também sua exposição a riscos de restrição de recursos e regulamentação”. A máxima da gestão empresarial consistente em que “Não se pode administrar o que não se pode medir” é realmente procedente. Procedente, também, é o seu corolário, destacado por Pavan Sukhhdev: “o que pode ser medido pode, com muita probabilidade ser administrado”. Peter Drucker, um dos meus gurus, desde os tempos dos bancos escolares da UFMA, final dos anos setenta, tinha razão quando afirmou em seu livro, “Administrando em Tempos de Grandes Mudanças”: os Contadores devem deixar de contar, em prol do medir. O mundo espera muito dos Contadores, não para salvá-lo, com certeza, porém para ajudar na trilha dos novos caminhos, em nome da sustentabilidade, que se impõem aos negócios públicos e privados.
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